Parece contraditória a atitude do
apóstolo ao rejeitar a Lei judaica e curvar-se às Leis romanas, pois, a
narrativa evangélica a seguir contradiz a orientação dada por Paulo aos romanos
em (Rm 13, 1-7). “Que te parece Simão? De quem recebem os reis da terra
tributos ou impostos? Dos seus filhos ou dos estranhos?” Como ele respondesse
“Dos estranhos”, Jesus lhe disse: “Logo, os filhos estão isentos.” [1] Porém, compreende-se que a atitude de
Paulo perante a comunidade romana se justifica pelo processo de aculturação o
qual o povo judeu se via inserido. Na intenção de divulgar a mensagem de Jesus,
o apóstolo usa de artimanhas as quais possam permitir a concretização de seus
intentos. Percebe-se que com o mesmo fanatismo que Paulo persegue os seguidores
de Jesus, ele defende e intenta disseminar a nova fé. Ocorre que Paulo era
fariseu, compreende-se que a cultura farisaica arraigada na formação da
personalidade deste, justifica suas ações.
Contrariando o pensamento de Paulo, os
judaizantes defendiam a observância da Lei judaica, conforme controvérsia em
Antioquia e em Jerusalém.[2]
Paulo
legitima seu apostolado num contato místico com Jesus pós-morte, o qual o
assenta em uma esfera metafísica. Apesar de a história e a produção
cinematográfica já registrarem resultados positivos neste âmbito, e a física
quântica questionar sobre a realidade a qual percebemos,[3] o mundo
inteligível ainda pertence ao âmbito da fé, fator que remete experiências
místicas a âmbito puramente teológico. Assim sendo conclui-se que o apostolado de
Paulo orienta-se na visão mística do ‘Cristo’, ente metafísico, e não nas
ideias do mestre de Nazaré, portanto, compactua-se com o entendimento da
maioria dos historiadores de que embora Jesus possa ser o fundamento do
cristianismo, Paulo é o fundador deste. Entende-se que Paulo seja o responsável
pela institucionalização da nova fé proposta por Jesus. Paradoxalmente ao mesmo
tempo em que ele é o responsável pela disseminação da fé cristã, ele também
responde pela cultura da mensagem confessional e segregada de Jesus.
Compreende-se que a postura de Jesus não contraria a tradição judaica no que
tange ao entrelaçamento dos aspectos econômicos, políticos e sociais. Portanto,
acredita-se que as ações de Jesus não se restringem apenas ao anúncio do reino
de Deus. A reação do mestre de Nazaré, ante as questões sociais do ethos
judaico da Galiléia do século I, perpassa não somente pela esfera religiosa,
mas também pelas esferas ético/política. Acredita-se que o fato de Jesus
anunciar o reino de Deus e a alerta deste quanto à necessidade de se priorizar
as questões espirituais colocando as questões matérias em segundo plano,
contribuíram para a leitura distorcida da tradição judaico-cristã quanto ao
retrato do nazareno, dando maior ênfase ao aspecto religioso em detrimento do
aspecto ético/político. Mas a postura de Jesus ante o Templo e a situação acima
descrita, endossa a ideia de que este além de um líder religioso se preocupou
em justa medida com a situação política do contexto social o qual ele estava
inserido. Apesar de entender que as parábolas de Jesus podem fazer alusão a
outro mundo, compactua-se com a leitura do professor Cornelli, no sentido de
compreender que Jesus se apoia nas questões sociais do momento e aponta para a
necessidade de uma reforma interior, a qual pudesse levar a uma reforma
exterior.
O resultado desta pesquisa aponta para
a unanimidade entre os historiadores quanto à importância de ação missionária
de Paulo no que tange à propagação do cristianismo. Mas, constata que a fé
cristã nos moldes em que chegou aos dias atuais, tem origem, em Paulo e não em
Jesus. Assim sendo compreende-se que o resultado da pesquisa corrobora a ideia
de que o movimento de Jesus não legitima os ideais do apostolo Paulo.
[2]
Disputa entre judaizante x helenizantes. Cf. Atos 15 v, 1-4 e 5-21
[3]
Cf. fonte - http://www.youtube.com/watch?v=wDtrisdNh18&feature=related,
filme “Minha vida em outra vida”, baseado em fatos reais, relatos
no livro autobiográfico de Jenny Cockell, Crossan (2003, p.21).