terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

TCC Cristianismo Antigo - considerações finais.


Parece contraditória a atitude do apóstolo ao rejeitar a Lei judaica e curvar-se às Leis romanas, pois, a narrativa evangélica a seguir contradiz a orientação dada por Paulo aos romanos em (Rm 13, 1-7). “Que te parece Simão? De quem recebem os reis da terra tributos ou impostos? Dos seus filhos ou dos estranhos?” Como ele respondesse “Dos estranhos”, Jesus lhe disse: “Logo, os filhos estão isentos.” [1] Porém, compreende-se que a atitude de Paulo perante a comunidade romana se justifica pelo processo de aculturação o qual o povo judeu se via inserido. Na intenção de divulgar a mensagem de Jesus, o apóstolo usa de artimanhas as quais possam permitir a concretização de seus intentos. Percebe-se que com o mesmo fanatismo que Paulo persegue os seguidores de Jesus, ele defende e intenta disseminar a nova fé. Ocorre que Paulo era fariseu, compreende-se que a cultura farisaica arraigada na formação da personalidade deste, justifica suas ações.

Contrariando o pensamento de Paulo, os judaizantes defendiam a observância da Lei judaica, conforme controvérsia em Antioquia e em Jerusalém.[2]

Paulo legitima seu apostolado num contato místico com Jesus pós-morte, o qual o assenta em uma esfera metafísica. Apesar de a história e a produção cinematográfica já registrarem resultados positivos neste âmbito, e a física quântica questionar sobre a realidade a qual percebemos,[3] o mundo inteligível ainda pertence ao âmbito da fé, fator que remete experiências místicas a âmbito puramente teológico. Assim sendo conclui-se que o apostolado de Paulo orienta-se na visão mística do ‘Cristo’, ente metafísico, e não nas ideias do mestre de Nazaré, portanto, compactua-se com o entendimento da maioria dos historiadores de que embora Jesus possa ser o fundamento do cristianismo, Paulo é o fundador deste. Entende-se que Paulo seja o responsável pela institucionalização da nova fé proposta por Jesus. Paradoxalmente ao mesmo tempo em que ele é o responsável pela disseminação da fé cristã, ele também responde pela cultura da mensagem confessional e segregada de Jesus. Compreende-se que a postura de Jesus não contraria a tradição judaica no que tange ao entrelaçamento dos aspectos econômicos, políticos e sociais. Portanto, acredita-se que as ações de Jesus não se restringem apenas ao anúncio do reino de Deus. A reação do mestre de Nazaré, ante as questões sociais do ethos judaico da Galiléia do século I, perpassa não somente pela esfera religiosa, mas também pelas esferas ético/política. Acredita-se que o fato de Jesus anunciar o reino de Deus e a alerta deste quanto à necessidade de se priorizar as questões espirituais colocando as questões matérias em segundo plano, contribuíram para a leitura distorcida da tradição judaico-cristã quanto ao retrato do nazareno, dando maior ênfase ao aspecto religioso em detrimento do aspecto ético/político. Mas a postura de Jesus ante o Templo e a situação acima descrita, endossa a ideia de que este além de um líder religioso se preocupou em justa medida com a situação política do contexto social o qual ele estava inserido. Apesar de entender que as parábolas de Jesus podem fazer alusão a outro mundo, compactua-se com a leitura do professor Cornelli, no sentido de compreender que Jesus se apoia nas questões sociais do momento e aponta para a necessidade de uma reforma interior, a qual pudesse levar a uma reforma exterior.

O resultado desta pesquisa aponta para a unanimidade entre os historiadores quanto à importância de ação missionária de Paulo no que tange à propagação do cristianismo. Mas, constata que a fé cristã nos moldes em que chegou aos dias atuais, tem origem, em Paulo e não em Jesus. Assim sendo compreende-se que o resultado da pesquisa corrobora a ideia de que o movimento de Jesus não legitima os ideais do apostolo Paulo.

 



[1] Cf. Mt 17, v 25 e 26)
[2] Disputa entre judaizante x helenizantes. Cf. Atos 15 v, 1-4 e 5-21
[3] Cf. fonte - http://www.youtube.com/watch?v=wDtrisdNh18&feature=related, filme “Minha vida em outra vida”, baseado em fatos reais, relatos no livro autobiográfico de Jenny Cockell, Crossan (2003, p.21).