sexta-feira, 24 de agosto de 2012


“Temer a morte é um ato de ignorância.”

Sócrates

 

É sabido que a morte de Sócrates se deu pelo incômodo que sua postura de retidão causara às autoridades de Atenas, pois, sua visão filosófica propiciava o despertar das consciências, sobretudo, dos jovens.

O tribunal do júri que julgou Sócrates contava com 501 juízes, dois quais 280 votaram a favor e 221 contra sua condenação. Conforme a cultura local, a pequena diferença de votos conferia ao acusador e ao acusado o direito de retomar a palavra para propor uma pena. Meleto, o acusador, reivindicou a morte. Diante da consciência de que mal algum teria feito a outrem, Sócrates não vê razão para desejar mal a si mesmo. Portanto, se nega a propor alguma sentença contrária à sentença proposta por Meleto. Sócrates, por sua vez, segue a cultura dos heróis de seu tempo, que concebem a ideia de que melhor morrer na glória que viver no infortúnio. Ao recusar o direito de propor uma pena a si mesmo, o filósofo declara admirar se da quantidade de votos a favor de sua condenação, de uma vez que nunca havia querido o mal daquela cidade. Ele adverte que não tendo nada a temer, nem recursos para custear a liberdade, sabe que a morte não lhe será mal maior que ser expulso da cidade ou viver sobre os grilhões e a custódia de autoridades menos sábias.

Assim como os heróis de guerra, Sócrates também preferiu a morte, mas não pelo fato de preocupações com honras terrestres, e sim, com a certeza da liberdade que esta poderia ofertar à sua alma. Ele defende a ideia de que melhor demonstrar fidelidade aos deuses cumprindo sua missão na terra, que passar por sábio sem o ser, pois, o fato de temer o que se desconhece termina por denotar ignorância.

Em virtude da negação de recorrer da sentença de morte, Sócrates se desculpa junto aos juízes que votaram a favor de sua absolvição. Ele se utiliza do argumento de que sempre agira por inspiração dos deuses, portanto, certamente, a sentença atribuída por Meleto lhe seria o melhor naquele momento. Pois, se com a morte o destino o levasse ao nada, ele nada sentiria, e, se o levasse a algum lugar, certamente, viveria uma enorme felicidade, de uma vez que lhe seria possível o reencontro com aqueles que lhe antecederam, os quais lhe poderiam propiciar a continuidade na busca do conhecimento.

Para amenizar a decepção destes juízes Sócrates os deixam a par de que os deuses cuidam do destino dos bons e dos maus, e com certeza, ocuparia bom lugar. Pede a estes que quando seus filhos crescessem lhes fossem transmitidos os valores que ele os havia ensinado, a fins de que os meninos criados na ausência do pai, não fossem corrompidos e não permitissem que o “ter” suplantasse o “ser”. Caso isso viesse acontecer, ele já teria recebido a justiça destes. Despede-se alegando que deveriam seguir seus caminhos, ele rumo à morte e os juízes rumo à vida, caminhos os quais só os deuses poderiam saber qual o melhor. Entendo que o fato de Sócrates ter se negado a contrapor a sentença de morte a ele imputada, não represente um ato de morte voluntária, a qual ele demonstra ser contra.

 Ao contrário dos heróis de guerra que viam na morte voluntária a oportunidade de se perpetuarem na memória do porvir, Sócrates enxergou em sua condenação a oportunidade de sair da vida na carne para a vida com mais liberdade na busca da verdade, no mundo o qual Platão viria denominar “O mundo das ideias”, onde segundo Sócrates e Platão, reside a realidade.

 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Teoria Criacionista x Evolucionista





Sempre que as questões sobre as teorias criacionista/evolucionista são colocadas em debate, é comum alguns interlocutores defensores do criacionismo se utilizar de argumentos tais como: “A teoria criacionista é algo incontestável, pois, ela tem como pressuposto as escrituras sagradas, a palavra de Deus.” Como tenho uma questão a este respeito que muito me incomoda, aproveito a oportunidade para saber se algum criacionista pode responder os questionamentos expostos no final deste texto que foi escrito por ocasião em que eu cursava uma Pós em Filosofia e Existência. Segue o texto abaixo.

No meu entender, o pensar filosófico questiona. Aquilo que foge ao alcance do intelecto, a razão leva a admitir que deva haver algo superior, fora do alcance do entendimento humano, mas que pela lei de causa e efeito é plausível de explicação.
Segundo Karl Marx, “o mal do filosofo foi que ele apenas se limitou a levantar questionamento”. Mas se a filosofia pudesse ter respostas concretas, ela deixaria de ser filosofia para ser ciências, e, portanto, limitada. Reale e Antiseri defendem a posição de que “a filosofia tem sua configuração própria e sua autonomia, mas, não exaure tudo aquilo que se pode dizer”. Filosofia é busca incessante do saber, é questionamento.
O objeto da filosofia escolástica é a elaboração da filosofia cristã, e sua proposta e apoiar a fé na razão. Pode-se perceber que mesmo dentre os filósofos escolásticos, existiram idéias antagônicas. Ocorre que a Bíblia é uma questão hermenêutica, e as verdades advindas dela perpassam pela razão daqueles que a interpretam. É tanto que Nicolau Copérnico (1473 – 1543) foi levado ao tribunal condenado como herege ao tentar combater a teoria geocêntrica, sob a acusação de que estava indo contra a palavra de Deus. “Deus parou o sol até que Josué tomasse a cidade de Jericó”. Esta passagem está em Josué 10, 13. Esta, sem dúvidas, endossa a teoria geocêntrica, a qual sustentou a crença humana por milhares de anos. Pois bem, séculos mais tarde, Galileu Galilei (1564 – 1642), com o auxilio do avanço tecnológico conseguiu derrubar tal teoria.
E ai? Teria Deus se enganado ou a Bíblia não é no todo revelação divina?
Como poderia Deus parar algo que já é estático?

Outra questão: Deus criou Adão do barro, da costela de Adão criou Eva, os dois em um ato de desobediência comeram o fruto da árvore proibida, diga se de passagem, a árvore do conhecimento. Como castigo de um Pai que é infinitamente justo e bom, eles foram expulsos do paraíso, um paraíso imenso criado só para dos dois. Então, por intermédio da união carnal entre Adão e Eva, nascem Caim e Abel. Caim matou o Abel por inveja, ficou com vergonha de Deus, fugiu e casou-se. Com quem?
Por estas e outras razões, concordo com o pensar de São Tomas de Aquino, um bispo da igreja católica apostólica romana, que viveu no sec. XIII. “Sendo Deus único gerador de todas as verdades, a missão humana é de conhecer e dominar o mundo, aliando saber teológico e filosófico, fé e razão.”
Então, por entender que o tempo de fé cega já tenha passado e que o não saber por falta de oportunidade justifica a ignorância, mas que o não querer crer no que é óbvio é questão de opção em permanecer na ignorância, e, diga se de passagem, não tem nada a ver com a vontade de Deus, pensamos em formar um grupo de estudos holísticos onde pudéssemos buscar respostas tais quais:
Quem sou eu?
Onde estou?
Qual meu papel no lugar em que estou?
Para onde vou?

Você está convidado a participar conosco deste momento de estudo que está acontecendo às quintas feiras de 20 às 21h e 40 min. Este estudo é de caráter puramente informativo, nada de doutrinação, e está aberto a todos com real interesse na busca do conhecimento. Como o estudo ainda se encontra em estágio de implantação, estamos aceitando sugestões bibliográficas. Os encontros estão acontecendo em minha residência. Não será exigida assiduidade, mas a pontualidade é imprescindível.
Caso seja do interesse, entre em contato conosco.
Bjs.